terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

E continuamos por Portugal - Na Rota das Judiarias.




LAMEGO


Antiquíssima cidade portuguesa situada na sub-região do Douro fazendo parte da tradicional província de Trás-os-Montes e Alto Douro.


De origem romana, esteve sob domínio mouro, sendo "reconquistada" em 1057. A sua importância é atestada já em 1139 por aqui terem decorrido as famosas Cortes de Lamego, reunidas na igreja de S. Maria Almacave, onde D. Afonso Henriques foi aclamado como rei de Portugal e se estabeleceram as "Regras de Sucessão ao Trono". A própria diocese da cidade é mesmo anterior pois existe desde o ano 570 (S. Martinho de Dume) e trata-se da única diocese portuguesa que não corresponde a uma capital de distrito.



Vista da cidade 


A presença judaica parece também ter sido bastante forte e importante em Lamego, mesmo desde o período árabe.

As menções mais antigas à presença judaica em Lamego remontam aos finais do século XIV e referem duas judiarias: a mais remota, a judiaria velha e a judiaria nova.




Rua da Cruz



A “Judiaria Velha” ou “Do Fundo da Cidade” localizava-se junto da Porta do Sol (na atual rua da Cruz) e sendo a mais antiga, poderia já ser o “habitat” da comunidade judaica durante o domínio árabe.

Porta do Sol 


Desde 1388 os judeus assentaram-se para o Campo do Tavolado e junto do adro da igreja de Santa Maria Almacave, dando origem a outra judiaria, chamada “Judiaria Nova” ou "Judiaria Grande". Nesta Judiaria Nova, situada junto da Porta dos Figos, o comércio era animado na Rua Nova e continha a Rua da Cruz de Pedra e a Rua da Esnoga ou Sinagoga, o que permite identificar também a própria localização do templo judaico.



Rua junto ao adro da igreja de Santa Maria Almacave


Desde o séc. XIV que os judeus da então importante cidade de Lamego ocupavam a área entre o castelo e a igreja de Stª. Maria de Almacave. No séc. seguinte os bairros judeus eram já dois; o mais antigo (judiaria da velha), localizava-se junto à Porta do Sol, o que correspondia à judiaria nova ou do fundo junto do adro da igreja citada.



A cidade de Lamego também é uma das povoações da Beira onde impera o maior número de profissionais artesãos, tais como tecelões e alfaiates, e mesmo gibiteiros. Intercalando depois com estas profissões temos os mercadores demonstrando que também aqui é muito importante a área das transacções comerciais. Encontramos ainda profissões ligadas à saúde, como físicos e cirurgiões, aqui com um sublinhado na especialidade de oftalmologia. No sector da religião chegou a haver três rabis. Também nos deparamos com muitas profissões administrativas; assim encontram-se um procurador, um tabelião, um servidor do rei, um recebedor de pedidos, ou mesmo um almotacé ou um vereador e ouvidor. No que diz respeito às questões agrícolas só se tem conhecimento de um rendeiro.


Destarte, no séc. XV os bairros judeus eram já dois; o mais antigo: a Judiaria Velha e a Judiaria Nova. Em 1436, eram mais de 400 os habitantes judeus nas duas zonas, vivendo em judiarias completamente abertas e desfrutando do permanente contacto social com a comunidade cristã. Apesar da importância religiosa católica de Lamego, a percentagem deste número é de extremo significado. 



A partir do reinado de D. Duarte decretou-se que os dois bairros fossem encerrados à noite através de portas colocadas para esse efeito. Estas localizavam-se respetivamente na rua que abria para a Praça (do Comércio) e na que abria para o adro da igreja de Almacave.

A atual Rua Nova correspondia ao primeiro caso (mais a Rua Travessa da Fonte Velha, Rua da Seara e Rua da Cruz) e inclusivamente chegavam a ocupar a Rua do Almacave. Na Rua Nova (antiga judiaria nova) pode ver-se um característico portal ogival, granítico (agora com inscrição cristã). Pode ter sido aqui a antiga Sinagoga. 



José de Lamego, sapateiro judeu, foi quem recebeu de Pêro da Covilhã na cidade do Cairo as informações que de seguida permitiram a D. João II conhecer todos os dados referentes às costas leste africana, arábica e índia que lançou a viagem de Vasco da Gama.
Pêro da Covilhã



Ao lado da cidade existe a povoação de Penajóia, cuja designação arcaica era Peñajuía, o que significaria Penha Judia, indiciando também aí a presença de uma comunidade judaica. 



Brasão de Penajóia



Fontes:


(Rede de Judiarias de Portugal)


(com foto de Rafael Baptista)


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