quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O Casamento Judaico!



Ani Ledodi Vedodi Li

“Eu sou do meu amado e o meu amado é meu”



Ani LeDodi VeDodi Li, interpretação de Fortuna
(Fortunée Joyce Safdié)



Casamento, Miscelânea do Ciclo de Vida, Itália, séc. XV,
Braginsky Collection 259


     É em Kidushin ou Consagração (a primeira parte da cerimónia do casamento judaico), depois da troca de alianças, que a noiva recita Ani LeDodi VeDodi Li (“Eu sou do meu amado e o meu amado é meu”), uma frase do “Cântico dos Cânticos” 6:3 (Shir Ha Shirim 6:3).

     O “Cântico dos Cânticos”, um dos mais belos livros da Bíblia, cuja autoria é atribuída ao rei Salomão, é escrito na forma de uma canção de amor sobre um homem e uma mulher. No entanto, os nossos sábios ensinam-nos que Salomão terá usado o amor entre homem e mulher como alegoria do amor entre D’us e Israel, uma união sagrada e indissolúvel, como deve ser o amor entre esposos. 



O Casamento, Simeon Solomon (1840-1905)


     O casamento é oficiado sob uma chupah, ou pálio nupcial, que pode ser o próprio Talit do noivo, devendo cobrir os noivos, como símbolo do novo lar do casal nesta fase abençoada da sua vida. Este “lar” simbólico, a chupah, permite que a cerimónia seja realizada em qualquer lugar.



Casamento Judaico, Jozef Israelis, 1903


    Na cerimónia de casamento é costume a noiva (kalah) ficar à direita do noivo (chatan); esta posição é baseada numa interpretação do Salmo 45:10 - “Entre as tuas amadas estão as filhas do rei; à tua direita uma rainha, enfeitada com o ouro de Ofir”. Na tradição judaica a noiva é uma rainha e o noivo é um rei.

     Propomos agora a audição de uma canção, cuja melodia é de origem sefardita grega, intitulada “Miserlou”. Esta canção faz parte do reportório do rembetiko grego, tornando-se famosa na versão do guitarrista rock Dick Dale, nos anos 60. O cineasta Quentin Tarantino recuperou-a para a banda sonora do filme “Pulp Fiction”, de 1994. Neste contexto vamos ouvir “Miserlou” (rapariga egípcia em grego) em língua yiddish, como se fora cantada por um noivo ashkenazy, evocando os seus sentimentos pela noiva sefardita, que ele imagina como uma princesa do Oriente.




“Princesa Miserlou”, Música Antiga Judía Europea – Klezmer Sefardí


Minha Miserlou, a doçura de teus olhos/acendeu uma chama no meu coração
(Oh, meu amor, Oh, minha noite)/teus lábios gotejam mel, Ah…

Oh Miserlou, mágica, exótica beleza/enlouquecido de amor, não suporto mais,
Vou roubar-te da terra árabe
(…)


Ketubah de David Franco de Almeida e Giuditta Valensin,
Veneza, 1648


    Entre Kidushin e Nissuin (a segunda parte da cerimónia), é costume fazer-se a leitura ou menção da ketubah ou contrato matrimonial. A ketubah, que confirma legalmente o casamento, está incorporada numa legislação específica idealizada há mais de 2500 anos. O seu propósito original é o de proteger a mulher, numa época em que a mulher não tinha direitos. 



Os Noivos, Marc Chagall, 1940


    Em Nissuim a ênfase recai sobre as Sheva Brachot, sete bênçãos que como todas as bênçãos do casamento são recitadas sobre um cálice de vinho (símbolo da vida). À excepção da última, as Sheva Brachot não se referem ao amor mas à Criação. A liturgia refere D’us como Criador de todas as coisas, do homem, da mulher, e do Jardim do Éden. Por fim o casal é abençoado, desejando-se-lhe uma vida cheia de alegrias e um amor tão indestrutível quanto o amor de D’us por Israel. 



Acompanhando a noiva para o mikveh, Shalom Koshvili, 1939


    No momento musical anterior ouvimos o noivo. Vamos agora ouvir a noiva, numa canção tradicional sefardita de Sofia, Bulgária, - “Dame parás” -, cantada em ladino, mas com a palavra eslava parás (dinheiro). A canção refere-se ao banho ritual (tevilah) a que a noiva deve submeter-se na casa de banhos (mikveh) antes da boda, para onde é acompanhada pelas mulheres da família e da família do noivo, incluindo la suegra grande (a mãe do noivo). O título da canção “Dame parás” (Dá-me dinheiro) alude ao pagamento do banho, um encargo do noivo. 



“Dame parás”, Música Antiga Judía Europea – Klezmer Sefardí


    Na conclusão da cerimónia é costume o noivo quebrar um copo de vidro envolto num pano, um gesto simbólico que recorda a destruição do Templo de Jerusalém. É tempo então de festejar com alegria e fazer votos de felicidade – Mazal tov! É tempo para a boda. É tempo de bailar.

     Terminamos este artigo com o tema “Tanz, tanz, yidelekh” (Bailai, judeus, bailai). 



“Tanz, tanz yidelekh”, Música Antiga Judía Europea – Klezmer Sefardí

Nota: Ketubah de David Franco de Almeida e Giuditta Valensin, Veneza, 1648, 4ªfeira 14 de Tishri 5409 (30 de Setembro de 1648), Braginsky Collection, Ketubah 99



Este artigo é mais uma oferta da minha querida amiga

Sónia Craveiro

Muito obrigada J

Beijinhos


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