segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Música do Holocausto - Parte I




Orquestra de prisioneiros de Auschwitz


         Os judeus, perseguidos e obrigados a viver em condições sub-humanas na Europa sob domínio nazi, lutaram com todos os meios ao seu alcance para preservar a sua humanidade. A fome, a doença e o medo da morte eram uma constante nos guetos e nos campos de concentração. Foi na música, enquanto linguagem universal que tem o poder de expressar o que não pode ser dito ou explicado por palavras, que muitos encontraram a força espiritual para resistir aos horrores que os rodeavam.

     A música que era composta ou interpretada durante o Holocausto, proporcionava às pessoas uma sensação de conforto emocional, ao mesmo tempo que as distraía da sua horrível condição. 



AS CANÇÕES DO GUETO


Cantiga de rua no gueto


         A canção de gueto, além de permitir uma fuga à realidade, documenta a vida no gueto e mantém a tradição de um género musical - a canção yiddish, nascida nos guetos da Polónia, Rússia ou Roménia. A canção de gueto revela ainda uma enorme capacidade de sofrimento, mas também uma vontade indómita de sobreviver, uma urgência em criar, cantar e até de rir.



ARBETLOSE
(“A MARCHA DO DESEMPREGADO”)
Einjs, tswej, draj, fir,/Arbetlose senen mir!
Um, dois, três, quatro,/os desempregados somos nós!





         A canção Arbetlose (“A Marcha do Desempregado”), com música e letra de Mordechai Gebirtig, grita a revolta de um povo condenado ao desemprego e à miséria, que deambula pelas ruas sem nada poder fazer. 




Mordechai Gebirtig (1877-1942)


         Mordechai Gebirtig é um dos nomes mais importantes ligados à canção popular yiddish. Com simplicidade e humor, Gebirtig documenta através das suas canções a história de Kazimierz, o bairro judaico de Cracóvia onde o poeta nasceu, viveu e trabalhou como carpinteiro. Nas suas canções, Gebirtig fala da pobreza, do desespero e da miséria, mas também do amor, da felicidade e da esperança. 

         Mordechai Gebirtig dedicou os poemas às suas três filhas, criando para eles melodias que improvisava numa flauta pastoril. Nunca quis publicar o seu trabalho, mas tinha um diário onde anotou grande parte das canções. Esse diário, salvo por uma amiga que sobreviveu ao Holocausto, encontra-se hoje no YIVO Institute for Jewish Research em Nova Iorque. 




UNDZER SHTETL BRENT!
(“A nossa cidade está a arder!”)
Es brent!Briderlekh, s’brent!
Oy undzer orem shtetl, nebokh, brent!

Tudo está em chamas, irmãos! Tudo está em chamas!
Oh, a nossa pobre cidade, irmãos, está em chamas!




         Em 1936, a comunidade judaica da pequena cidade polaca de Przytyk foi vítima de um pogrom. Em resposta, Gebirtig escreveu em 1938 uma canção revolucionária que se tornaria na famosa – “Undzer shtetl brent!” (“A nossa cidade está a arder!”). A canção revelou-se uma profecia do Holocausto. Não muito tempo depois, os nazis destruíram as comunidades judaicas polacas e em 1941, Gebirtig e a sua família foram obrigados a viver no gueto de Cracóvia.


          Em 1942, Gebirtig foi assassinado pelos nazis quando se recusou a obedecer a uma ordem de deportação. A mulher e as filhas pereceram em campos de concentração. 




Capa de S’Brent, primeira edição das “Canções de Gueto” 
de Mordechai Gebirtig (Cracóvia, 1946)



         “Undzer shtetl brent!” viria a ser uma canção de Resistência nos guetos da Polónia, durante a Segunda Guerra Mundial, e ainda hoje é uma das músicas mais cantadas nas cerimónias de comemoração do Holocausto, pelo mundo inteiro.



“ZOG MIT KEYNMOL”
HINO DOS PARTISANOS

     

         Apesar da vigilância apertada, foram muitos os judeus que conseguiram fugir dos guetos e campos, formando os seus próprios grupos de resistência armada.



            O autor do Hino dos Partisanos é Hirsh Glik, um jovem internado no gueto de Vilna, que em 1943 escreveu o poema “Zog mit Keynmol”, para a Organização Unida dos Combatentes Judeus de Vilna (FPO). O título do poema significa “Nunca digas” e deriva da primeira frase da canção - “Nunca digas que chegaste ao fim da linha”. O poema foi adaptado a uma melodia russa escrita em 1935, tornando-se no Hino de Resistência dos partisanos judeus do Leste Europeu. “Zog mit Keynmol” é cantada em Israel e no estrangeiro, nas cerimónias do Dia da Memória do Holocausto.



Terminamos este artigo com a audição do Hino dos Partisanos - “Zog mit Keynmol”, na interpretação da cantora israelita Chava Alberstein. 




Este é o primeiro de um conjunto de artigos sobre este tema e todos eles resultado das preciosas pesquisas da nossa querida amiga,


Sónia Craveiro.

Muito obrigada
Beijinhos J



Fontes:


http://en.wikipedia.org/wiki/Zog_Nit_Keynmol
http://tatucya.com/2011/08/29/octavian-florescu/


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