terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O debate que faltava fazer - Texto de Carlos Fontes



 
Portugueses Vitimas da Inquisição Espanhola

(1479 -1834)



Auto de Fé na Plaza Mayor de Madrid, em 1683.


Quando se fala da Inquisição espanhola na América, raramente se refere que a maioria das suas vítimas eram portugueses. Sabia que morreram mais portugueses em Espanha vítimas da Inquisição do que em Portugal?
A maioria era acusada de judaísmo, mas muitos outros de heresia, blasfémia, sodomia, bruxaria, etc.





A inquisição Castelhana foi criada em 1478, sendo logo seguida da inquisição aragonesa. Não tardou a surgir em toda a Espanha uma vasta rede de tribunais da inquisição, que se estendeu no século XVI às suas colónias.





O objetivo dos inquisidores era sempre o mesmo: combater a presença portuguesa na Espanha e seus domínios, apoderando-se dos seus bens. Milhares de famílias foram destroçadas e espoliadas.






 
Depois da Espanha ocupar Portugal, em 1580, largos milhares de portugueses vislumbraram neste país grandes oportunidades de negócio.


A troco de uma enormes somas de dinheiro, obtiveram autorização para se estabelecerem em Espanha. Ao mesmo tempo continuaram a infiltrar-se aos milhares nas suas colónias, onde possuíam enormes comunidades, apesar de estarem proibidos de aí se fixarem.




Uma decisão que se lhes revelou fatal, pois o seu êxito suscitou de imediato o saque dos seus bens através da Inquisição. A seguir à restauração da Independência de Portugal, em 1640, os banqueiros portugueses estabelecidos em Espanha foram sendo sucessivamente presos e pilhados: 
(Juan Nunez de Saraiva (1640), Diego Saraiva (1641), Manuel Enriques (1646), Gaspar e Alfonso Rodrigues Pasarino (1646), Estaban Luis Diamante (1646), outro não identificado (1647), Francisco Coelho (1654), Francisco Baéz Eminente (1691), etc.






Depois de 1640, muitos dos portugueses que se mostraram leais a Espanha acabaram também por serem acusados de judaísmo, como foi o caso de Rodrigo Mendes da Silva. Nascido em Celorico da Beira (1606), mudou-se para Madrid (1635) onde escreveu importantes obras como "Población General de España" e "Vida e Feitos Heroicos do Grande Condestável e sua Descendência (Nuno Alvares Pereira)". Em 1640 foi nomeado "cronista general de España". Em 1659 foi acusado de judaísmo, espoliado dos seus bens, conseguiu fugir para Itália onde faleceu em Veneza (1670).



A "União Ibérica" representou a ruína do Império português, o fim das suas rotas comerciais a nível global, mas também uma enorme matança de portugueses pela Inquisição espanhola, em grandiosas manifestações públicas. Estamos perante um verdadeiro genocídio, que visava destruir a sua capacidade de resistência e sobrevivência do povo português.



O seu saque constituiu uma importantíssima fonte de rendimentos que o tesouro real espanhol carecia, para fazer face aos graves problemas financeiros com que se debatia. Em 1676, os inquisidores calculavam que o resultado da última campanha de expropriação dos portugueses tivesse rendido a fabulosa soma de 772.748 ducados e 884.979 pesos.

Em 1683 foi publicada a célebre "Ley de Extermínio" dos portugueses. Os que não fossem apanhados e mortos, eram depois de roubados obrigados a fugir sob a ameaça de morte.
 No século XVIII continuavam a existir muitos redutos de portugueses em Espanha. Na maior parte dos casos eram seus descendentes, mas que continuavam a manter muito viva a memória das suas origens. A forte endogamia destas comunidades justifica em parte esta profunda ligação a Portugal.



As colónias espanholas na América, embora se observe o mesmo fenómeno, a verdade é que as mesmas continuaram a receber constantes fluxos de emigrantes portugueses.


A enorme capacidade que revelaram em se esconderam sob falsas identidades, mas também em se movimentarem, não foi suficiente para resistirem às perseguições que foram vítimas em Espanha, sobretudo entre 1580 e 1745.
Estudos recentes apontam claramente para uma conclusão inesperada: morreram mais portugueses vítimas da Inquisição em Espanha e nas suas colónias, do que aqueles que entre 1536 e 1820 foram mortos pela Inquisição em Portugal.



Tribunal da Inquisição em Espanha


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