terça-feira, 3 de julho de 2012

Sinagoga

Hurva Synagogue


Histórica sinagoga situada no bairro judeu da Cidade Velha de Jerusalém.
A sinagoga foi fundada no início do século 18, mas foi destruída por muçulmanos, alguns anos depois, em 1721. O prédio estava em ruínas há mais de 140 anos e ficou conhecido como a ruína, ou Hurva. Em 1864, a sinagoga foi reconstruída mas manteve o seu nome como o Hurva. Ela também foi reduzida a escombros durante a guerra Árabe-israelense de 1948.
Depois que Israel conquistou Jerusalém em 1967, uma série de planos foram apresentados para a concepção de um novo edifício.
O plano para reconstruir a sinagoga em seu estilo do século 19, recebeu a aprovação pelo Governo de Israel em 2000, e na sinagoga recém-reconstruído foi inaugurada em 15 de março de 2010.
A sinagoga agora restaurada é uma réplica da sinagoga do século 19, e é o resultado de 4 anos de trabalho.

“E me farão um Santuário, para que Eu possa habitar no meio deles”.
(Êxodo 25:8).

Como sugerem alguns autores, a sinagoga carrega uma dimensão imaginária e simbólica que difere de acordo com os olhares, sejam eles de fascínio, de ódio – que, infelizmente, vemos renascer em várias partes – ou de simples curiosidade frente a um universo desconhecido. Diante desse patrimônio conservado às vezes por milagre, diante desses memoriais, testemunhas insubstituíveis de espiritualidade e da cultura judaica de uma época e de todas as épocas, ecoam em nossa mente os dizeres do profeta Balaam, “Ma Tovu Ohalecha...”, entoados sempre que se inicia um serviço religioso na sinagoga: “Como são belas “ as tuas tendas, ó Jacob, teus lares, ó Israel” (Números 24:5).




Segundo a tradição, as sinagogas existem desde o tempo do patriarca Jacob. Mas, como instituição, surgiram após a destruição do Primeiro Templo, durante o cativeiro da Babilônia, aproximadamente no século 6 a.E.C. Foi numa terra estranha, em meio a adversidades, que a sinagoga tomou forma e evoluiu a partir de uma necessidade prática. Do Templo de Jerusalém restavam ruínas e o povo de Israel, exilado na Babilônia, precisava dar continuidade à sua vida religiosa. Desaparecera o Santuário, onde ofereciam sacrifícios, e não lhes era permitido construir outro, em nenhum outro lugar. Só lhe restava a oração... “Assim, Te ofertamos a oferenda de nossos próprios lábios, ao invés de novilhos”.




Os conquistadores haviam espalhado os exilados em comunidades por todo o Império Babilônico, portanto, estes se reuniam no Shabat e nos dias festivos para, em conjunto, orar e discutir seus problemas comunitários. Assim, estabeleceram um modelo de organização para todas as comunidades judaicas que viviam na diáspora, afastadas de sua terra, que deu origem à sinagoga, o Beit Haknesset, expressão que em hebraico significa literalmente “casa de assembléia”. A palavra “sinagoga” vem do termo grego para “assembléia” ou “congregação” – synagoge.




Mesmo com a volta dos judeus para Jerusalém e a reconstrução do Segundo Templo, as sinagogas continuaram a existir e a ser construídas. Segundo o Talmud, havia 394 sinagogas em funcionamento, em Jerusalém, durante a época do Segundo Templo. Com a sua destruição, em 70 a.E.C., a instituição sinagoga se tornou primordial para a sobrevivência do judaísmo. Representava o ponto de convergência da vida judaica, o local onde os judeus se reuniam para, através do culto, exercer a sua relação direta com D’s. Onde quer que os judeus se estabelecessem, construíam um local de orações onde liam e estudavam a Torá e organizavam os assuntos coletivos; um lugar onde tratavam das coisas humanas e de sua relação com o Divino. A sinagoga era o lugar de encontro de cada comunidade; a “casa de reunião”, o Beit Haknesset.



A sinagoga passou a refletir, também, as mudanças provocadas pela queda do Segundo Templo no seio do judaísmo, pois uma série de obrigações e mandamentos não mais podiam ser cumpridos. O culto na antiga Israel era baseado em sacrifícios e num ritual concebido para o Templo de Jerusalém, que tinha a dupla função de centro religioso único e de símbolo da soberania nacional. Além do mais, na época do Templo, somente os Cohanim – sacerdotes – e os levitas podiam exercer funções religiosas, ao passo que na sinagoga, qualquer judeu, parte de um “povo de sacerdotes”, pode exercer as funções religiosas, aproximando-se, sem intermediários, de D’us.

Apesar do judaísmo não exigir um local especial para a oração individual nem para as orações diárias, certas rezas exigem a presença de um minian, o quorum de 10 homens. Por isso, qualquer comunidade que pudesse reunir um minian para as orações tinha que ter uma sinagoga. Onde quer que os judeus vivessem e independentemente do nível econômico da comunidade, eles dedicavam um local para suas orações coletivas, especialmente construído ou simplesmente adaptando um cômodo para esse fim. O rolo da Torá bastava para santificar o local e torná-lo um Beit Hatefilá, uma “Casa de Orações”.



A sinagoga era também o centro da atividade intelectual-religiosa da comunidade. Toda a vida girava em torno ao Beit Haknesset, cujas funções institucionais abrangiam toda a vida judaica, tendo também a função de Beit Hamidrash, de Casa de Estudos. Esta era o centro intelectual onde a Torá era ininterruptamente estudada com absoluta e integral dedicação. Filon de Alexandria afirmava que o estudo transformava os judeus numa comunidade de talmidei chachamim, ou discípulos de sábios.

A expressão Beit Hamidrash foi traduzida nas várias línguas dos países onde viviam os judeus. Os da Itália chamavam suas sinagogas às vezes de “scuola”; os judeus alemães, de “schul” e os que falavam iídiche, na Europa Oriental, rezavam no “schil”. Todos estes nomes eram eloqüentes lembretes de que a Casa de Oração tinha íntima relação com a de Estudos, sendo adjacente à mesma ou no mesmo local. Geralmente as sinagogas que funcionavam como Beit Hamidrash eram construções simples usadas para as duas funções. A partir da Idade Média, este passou a ser o termo mais usado para identificar a sinagoga, ficando Beit Haknesset em desuso. Até hoje, os ashquenazim e os chassidim referem-se à sinagoga como o schil ou schul.




Foi a sinagoga que manteve os judeus firmemente ligados; era nesse recinto sagrado que eles buscavam a coragem e a vontade moral necessárias para sua sobrevivência num mundo que os perseguia, ameaçando-os e, muitas vezes, acabando por assimilá-los. Em 1872, Zadoc Kahn, Rabino-Chefe da França, disse num de seus sermões: ... “O grande, verdadeiro instrumento de salvação dos judeus foi a sinagoga. Foi entre suas paredes, às vezes ricamente ornadas, em outras, toscas e simplesmente desnudas, que, de certa forma, criou-se e desenvolveu-se o judaísmo e suas várias práticas de culto”.

Na realidade, nunca houve um estilo de arquitetura de sinagogas que pudesse ser chamado de “tradicionalmente judaico”. Cada sinagoga ao redor do mundo evoca o espírito e ambiente cultural da comunidade onde se situa e o momento histórico que esta atravessa. Sua diversidade arquitetônica reflete a história e a trajetória errante do povo que construiu o Beit Haknesset, o Beit Hamidrash, a sua Casa de Orações, e continua a usá-las como expressão de santidade, uma santidade que nós, judeus, tentamos incorporar à nossa própria vida.


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