segunda-feira, 2 de julho de 2012

DUAS CANTIGAS DE SEFARAD




ROSA DAS ROSAS/MORENICA

Orchestre Juif, Eugène Delacroix (1798-1863)

No pequeno filme que se segue, podemos ouvir a cantora francesa Françoise Atlan (nascida numa família sefardita) a interpretar duas cantigas conservadas na tradição de Al-Andaluz de Marrocos:“Rosa das Rosas” e “Morena me llaman”, também conhecida por “Morenica”. O que chama a atenção é a cantiga “Rosa das Rosas”, e porquê? Isso é o que vamos descobrir mais adiante; por ora, ouçamos Françoise Atlan:










“Rosa das Rosas”pertence a uma das mais importantes coleções de cantigas da Idade Média – As Cantigas de Santa Maria.









A temática poética de muitas das Cantigas é de louvor à Virgem Maria ou refere-se a milagres a ela atribuídos, alguns deles sucedidos em diversas localidades portuguesas, tais como Alenquer, Évora ou Santarém.


CANTIGAS DE SANTA MARIA



As Cantigas de Santa Maria constituem a obra lírica mais importante da Espanha Medieval. Os seus 420 poemas, escritos em galaico-português, com a correspondente notação musical e adornados com extraordinárias iluminuras, têm acompanhamento instrumental. As fontes das Cantigas dão o rei Afonso X, o Sábio, como o seu autor e compositor, mas é mais provável que ele tenha composto algumas delas e que as outras tenham sido compostas, a seu mando, por diversos trovadores, que faziam parte da corte do monarca de Leão e Castela.
São várias as iluminuras que representam jograis instrumentistas e cantores, mouros, judeus e cristãos.





Imagem da esquerda - Dois músicos – um mouro e um cristão -, tocando vielas

Imagem da direita - Dois músicos judeus, tocando saltérios beliscados



É portanto num ambiente que promove a convivência intelectual das culturas cristã, árabe e judia, que as diferentes músicas se cruzam, numa expressão única que chegou aos nossos dias.

ROSA DAS ROSAS


Esta é de loor de Santa Maria, com' é fremosa e bõa e á gran poder.
Cantiga X das “Cantigas de Santa Maria” - Afonso X de Leão e Castela, o Sábio (1221-1284)
Rosas das rosas e Fror das frores,
Dona das donas, Sennor das sennores.
Rosa de beldad' e de parecer
e Fror d'alegria e de prazer,
Dona en mui piadosa seer,
Sennor en toller coitas e doores.
Rosa das rosas e Fror das frores...






MORENA ME LLAMAN/MORENICA




A segunda cantiga, de autor anónimo, pertence ao Cancioneiro Sefardita. “Morena me llaman” ou “Morenica”, duas versões poéticas para a mesma composição musical, é uma interpretação do“Cântico dos Cânticos” (Shir Hashirim), mais especificamente de 1:5-6:
5 Sou morena, mas aprazível, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Kedar, como as cortinas de Salomão. 6 Não repareis no facto de eu ser morena, porque o sol, resplandeceu sobre mim;









MORENA ME LLAMAN

Morena me llaman/yo blanca naci
De pasear, galana, mi color perdi.
Morena me llama, el hijo del rey,
Si otra vez me llama, yo me voy con el
MORENICA
Morenica a mi me llaman,/Yo blanca naci,
El sol de enverano,/m’hizo a mi ansi.
Morenica, graciozica sos,/Morenica, y graciozica,
Kon ojos pretos.


 






Nota: Afonso X de Leão e Castela (1221-1284), foi proclamado rei aos 31 anos, recebendo o cognome O Sábio, devido à sua profunda cultura militar, literária, científica e espiritual. Afonso X era neto de D. Urraca (filha de D. Afonso Henriques), e foi avô materno do nosso rei D. Diniz (D. Beatriz, filha de Afonso X, casou com o rei português Afonso III).





Este artigo foi totalmente elaborado pela
minha querida amiga

Sónia Craveiro,

a quem agradeço com o carinho de sempre.
Muito Obrigada

Beijinhos


Fontes:

BRITO, Manuel Carlos de, CYMBROM; Luísa, HISTÓRIA DA MÚSICA PORTUGUESA, Universidade Aberta;
Imagens de “Morenica” –Ilustração de Zeev Raban – ao centro pode ver-se a bem-amada, ladeada de duas cortinas com duas grandes Estrelas de David; Iluminura da Golden Haggadah, folio 15r, Miriam e as mulheres israelitas a celebrarem o Êxodo do Egipto.

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