quarta-feira, 18 de abril de 2012

Os desenhos das crianças do ghetto de Terezín





(1942-1944)


Margit Koretzová, “Borboletas”, Terezín, 1942-1944



   Desde Maio de 1997, a Sinagoga Pinkas, em Praga, tem uma exposição permanente de desenhos das crianças que passaram pelo campo de concentração de Terezín, entre 1942 e 1944. Terezín funcionou, entre 1941 e 1945, como campo de trânsito para Judeus que depois seguiam para campos de extermínio.




     A exposição começa com reflexões sobre os acontecimentos que se seguiram à anexação dos territórios da Boémia e da Morávia à Alemanha - o Protetorado   Nazi -, que teve lugar a 15 de Março de 1939. Seguem-se descrições do transporte para o ghetto de Terezín (o primeiro chegou em 24 de Novembro de 1941), e das condições de vida das crianças, no seu dia-a-dia, nas suas novas “casas”.



Chegada a Terezín, Helga Weissová (deportada para Terezín em 1941, tinha 12 anos, foi libertada de Mauthausen em Maio de 1945)



A escola em Terezín, Helga Weissová



     Os sonhos, as fantasias, destas crianças são descritos em desenhos que fizeram sob a orientação da Srª Friedl Dicker-Brandeis (1898-1944), pintora e designer formada na prestigiada Escola Bauhaus de Weimar. A Srª Friedl Dicker-Brandeis organizou um curso clandestino de desenho, que teve como intenção ajudar as crianças na procura dos meios que as ajudassem a desenvolver princípios de comunicação, bem como um meio próprio de expressão que canalizasse a sua imaginação e as suas emoções. Desta perspetiva, a arte também funcionava como uma terapia, de algum modo ajudando as crianças a enfrentar as duras condições de vida do ghetto.


     Antes de ser deportada para Auschwitz, onde veio a morrer, Friedl Dicker-Brandeis conseguiu esconder cerca de 4.500 desenhos das crianças do campo, que logo após a guerra foram recuperados e entregues ao Museu Judaico de Praga. Estes desenhos são um testemunho pungente do destino dos Judeus da Boémia e da Morávia, no período da II Guerra Mundial.


(Friedl Dicker-Brandeis em 1936)



Cena de um filme de propaganda nazi, sobre Terezín, mostrando as crianças no musical Brandibar, 1941-42. Em fundo podem ver-se os cenários da autoria de Friedl Dicker-Brandeis


   Foram deportadas para o campo de Terezín cerca de 15.000 crianças, com idades inferiores a 15 anos, que transitaram, maioritariamente, para Auschwitz onde foram quase todas exterminadas. Regressaram a casa cerca de 100.
     Em muitos casos, os desenhos de Terezín são tudo o que resta para celebrar as vidas daquelas crianças. Sem eles, os seus nomes teriam caído no esquecimento.


Memórias de casa, Marianna Lancová (morreu em Auschwitz aos 12 anos)

Rua de Terezín Petr Ginz

  
   Petr Ginz foi deportado para Terezín em 1942, com 14 anos, vindo a morrer em Auschwitz em 1944. Era o editor chefe de uma revista clandestina – VEDEM -, em Terezín.




Nota:
   Hitler “criou” em Terezín uma cidade só para Judeus, onde, segundo ele, “os Judeus estariam a salvo das atribulações da guerra”. Antes da guerra, a população da cidade rondava as 5.000 pessoas; no auge da guerra atingiu as 55.000. Os novos residentes eram todos Judeus, e de uma craveira intelectual superior: músicos, escritores, artistas, políticos, etc. A quantidade de músicos era tão grande, que era possível formar duas orquestras sinfónicas a funcionarem, em simultâneo, diariamente. Muitos destes artistas roubavam papel e outros materiais, que destinavam à escola clandestina da Srª Friedl Dicker, para que as crianças pudessem desenvolver o seu potencial artístico.

Este trabalho foi elaborado para apresentação aos seus alunos por Sónia Craveiro

Muito obrigada
Beijinhos





Fontes:
HOŘEC, Jaromir, ALBICH, Milan, … i děti šly na smrt, Naše vojsko, 1960, Praha

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