segunda-feira, 12 de março de 2012

A Trajectória


A Trajectória dos judeus do Brasil

 

   
O Brasil conta hoje com uma população mundialmente significativa de judeus, sendo a segunda maior comunidade judaica da América Latina e a décima primeira a nível mundial.


Os judeus no Brasil colónia



O Brasil foi palco para a primeira comunidade judaica estabelecida nas Américas. Fator histórico importantíssimo para os judeus nordestinos, os B’nei-Anussim; ramo judaico que recentemente tem se destacado na mídia judaica do mundo inteiro como um verdadeiro “Milagre da Ressurreição”. Pois, são esses registos históricos que os anussins tomam como referência para fundamentar a sua árvore genealógica até Jerusalém. Com a expulsão dos judeus de Portugal, logo após a sua descoberta, judeus convertidos ao catolicismo (cristãos-novos) já haviam se estabelecido na nova colónia.





Importantes membros da “comunidade judaica anussim” pisaram na terra quando o judeu-cristão-novo Pedro Álvares Cabral chegou em 1500, fazendo parte de sua tripulação: Mestre João, médico particular da Coroa Portuguesa e astrónomo; e Gaspar da Gama, intérprete (que ajudara Vasco da Gama nas Índias, onde vivia) e comandante da nau que trazia mantimentos, dentre outros de menor destaque.



Pedro Álvares Cabral



Pouco se sabe ao certo a respeito da vida de Pedro Álvares Cabral antes ou depois da viagem que o levou a chegar no Brasil. Acredita-se que tenha nascido em 1467 ou 1468—o ano anterior é o mais provável— em Belmonte, a cerca de 30 km de distância da cidade atual de Covilhã centro de Portugal. Seu pai foi Fernão Álvares Cabral e sua mãe, Isabel Gouveia, ele era um dos cinco filhos e seis filhas da família. Cabral foi batizado como Pedro Álvares de Gouveia a fim de desvincularem ele de sua origem judaica patente no sobrenome do pai “Cabral” (que deriva de cabra – nome código usado pelos católicos para identificarem os cristãos-novos) e, só anos mais tarde, supostamente após a morte de seu irmão mais velho em 1503, começou a usar o sobrenome do pai. O brasão de armas de sua família foi elaborado com duas cabras roxas em um campo de prata. Roxo representa fidelidade e as cabras derivam do nome de família. No entanto, apenas seu irmão mais velho tinha o direito de fazer uso do brasão da família.

A família Cabral ganhou destaque durante o século XIV. Álvaro Gil Cabral (trisavô de Cabral e um comandante militar de fronteira), foi um dos poucos nobres portugueses a permanecer fiel ao rei D. João I durante a guerra contra o rei de Castela. Como recompensa, D. João I presenteou Álvaro Gil com a propriedade do feudo hereditário de Belmonte onde hoje se encontra a mais importante comunidade judaica anussim de Portugal – a Comunidade Judaica de Belmonte.

Criado como membro da baixa nobreza, Cabral foi enviado à corte do rei D. Afonso V em 1479, quando tinha cerca de 12 anos. Educou-se em humanidades e foi treinado para lutar e pegar em armas. Tinha cerca de 17 anos de idade em 30 Junho de 1484, quando foi nomeado moço fidalgo (um título de menor importância normalmente concedido a jovens nobres) pelo rei D. João II. Os registos de suas ações antes de 1500 são extremamente incompletos, mas Cabral pode ter excursionado pelo norte da África, tal como haviam feito seus antepassados e era comum ser feito por outros jovens nobres de sua época. O rei D. Manuel I, que tinha ascendido ao trono dois anos antes, concedeu-lhe um subsídio anual no valor de 30 mil Reis em 12 de Abril de 1497. Na mesma época, recebeu o título de fidalgo do Conselho do Rei e foi nomeado Cavaleiro da Ordem de Cristo. Não há nenhuma imagem ou descrição física detalhada de Cabral contemporâneas à sua época. Sabe-se que era forte e igualava seu pai em altura (1,90 metros). O caráter de Cabral tem sido descrito como culto, cortês, prudente, generoso, tolerante com os inimigos, humilde, mas também vaidoso e muito preocupado com o respeito que sentia que sua nobreza e posição exigiam.



Mestre João

João Faras ou João Emeneslau, mais conhecido como Mestre João, era um médico, astrónomo, astrólogo e físico espanhol presente na expedição comandada por Pedro Álvares Cabral que aportou no Brasil em Abril de 1500, sendo considerado por muito tempo como a primeira a chegar em terras brasileiras.

Médico da coroa portuguesa, era um dos principais tripulantes de Cabral e um dos que se sabe que eram judeus - o outro era Gaspar da Gama, que historicamente além de Cabral, se destacariam em meio aos seus por suas habilidades e destreza no papel que desempenhavam.

No dia 28 de Abril de 1500 ele teria enviado uma carta para o rei D. Manuel I em que, como a Carta de Pero Vaz de Caminha, fazia comentários sobre as novas descobertas. Em um dos trechos da carta, escrita na atual Baía Cabrália, onde realizou os primeiros estudos astronómicos no Brasil, ao identificar pela primeira vez a constelação do Cruzeiro do Sul, sugere ao rei que peça um mapa onde veria a localização das terras onde eles estavam, o que faria crer que os portugueses já conheciam o território brasileiro.

A Carta do Mestre João foi descoberta pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, sendo publicada pela primeira vez em 1843, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro , Rio de Janeiro, 1843, tomo V nº 19.




Fernão de Noronha

Outro personagem que ganharia vulto, principalmente para os judeus anussitas foi Fernão de Noronha, também chamado Fernando de Noronha, corruptela de Fernão de Loronha (seu verdadeiro nome) (século XV - século XVI) foi um judeu português convertido ao catolicismo (cristão-novo) que se tornou um dos primeiros grandes exploradores de pau-brasil nas terras recém-descobertas do Brasil pelo reino de Portugal.

Rico empreendedor, comerciante e armador, natural das Astúrias, Noronha era representante do banqueiro Jakob Fugger na Península Ibérica. Juntamente com outros cristãos-novos, comerciantes portugueses, obteve concessão para explorar os recursos naturais do Brasil durante três anos e em 1503 obteve da Coroa o contrato para exploração do pau-brasil, a valiosa madeira de tinturaria. O consórcio financiou a expedição de Gonçalo Coelho em 1503 que em 24 de Julho descobriu a magnífica ilha que mais tarde tomaria seu nome. Em 1506, Noronha e os sócios extraíram das novas terras mais de 20 mil quintais de pau-brasil, vendidos em Lisboa com um lucro de 400% a 500%. Em 1511, associado a Bartolomeu Marchionni, Benedito Morelli e Francisco Martins, participou da armação da nau Bretoa, que a 22 de Julho retornou a Portugal com uma carga de 5 mil toras de pau-brasil, animais exóticos e 40 escravos, mulheres em sua maioria.

Como consequência do contrato e da expedição de Gonçalo Coelho, o rei D. Manuel I (1495-1521) doou, em 1504, a Fernão de Noronha, a primeira «capitania do mar» no litoral: a ilha de São João da Quaresma, atual Fernando de Noronha.

Em 28 de Junho de 1524, foi feito fidalgo de cota de armas por D. João III, em Portugal, que já tinham sido concedidas anos antes por Henrique VII de Inglaterra. A 23 de Setembro de 1532 ser-lhe-iam atribuídas armas novas, distintas das anteriores.

Alguns atribuem a Fernão de Noronha a mudança dos nomes cristãos de Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz para Brasil.





O Judeu Caramuru

Nos dez anos seguintes, outros dois judeus naufragaram perto da costa brasileira e integraram-se aos indígenas: João Ramalho e Diogo Álvares Correia, o "Caramuru", que serviriam de intérpretes para novos portugueses que foram chegando. No mesmo período, Fernão de Noronha extraía pau-brasil da costa atlântica; as árvores ficariam conhecidas como "madeira judaica". Muitos judeus portugueses, procurando fugir da intolerância católica em Portugal, viam no "novo mundo" a oportunidade de praticar livremente seu culto, incluindo-se aí os convertidos ao cristianismo que praticavam o judaísmo em segredo - os cristãos-novos. Martim Afonso de Sousa era um dos cristãos-novos que chegaram ao Brasil no século XVI, como governante de uma das capitanias hereditárias.

Mais judeus pioneiros chegaram ao país na época das invasões holandesas do Brasil, em 1630, uma vez que compunham na Holanda uma comunidade tolerada, razão pela qual os holandeses foram bem recebidos pela comunidade judaica já estabelecida no Brasil. O Nordeste brasileiro ficou sob o domínio holandês por vinte e quatro anos e, neste período, muitos sefarditas se estabeleceram no país, principalmente em Recife, onde tornaram-se prósperos comerciantes e fundaram a primeira sinagoga das Américas; a Kahal Tzur Israel. Com a expulsão dos holandeses, a maioria dos judeus estabelecidos no Brasil fugiram para os Países Baixos ou outras possessões holandesas, como as Antilhas e Nova Amsterdão, que posteriormente seria renomeada como Nova York após ser cedidas aos ingleses. Ali fundaram a primeira comunidade judaica dos Estados Unidos e uma terça parte desses judeus nordestinos se deixaram assimilar para garantir sua permanência no Brasil e preservar a integridade moral e física de sua família, gerando mais tarde os que ficariam conhecidos B’nei-Anussim que hoje lutam pelo reconhecimento como judeus de nascimento perante o rabinato israelita.

As últimas informações sobre a presença destes judeus ibéricos no Brasil datam de meados do século XVIII. Nessa época, com o desenvolvimento da mineração na colónia, milhares de portugueses se deslocaram para a região das Minas Gerais, entre eles, um número considerável de cristãos-novos. Através da Inquisição, muitos desses sefarditas foram julgados, enviados à Portugal e condenados à prisão. De fato, muitos desses cristãos-novos não mais mantinham ligações com o judaísmo, mas, por serem ricos comerciantes e mineiros, eram acusados de praticar judaísmo por seus inimigos e dificilmente se livravam das condenações da Inquisição.

No final do século XVIII, já não havia mais relatos sobre judeus no Brasil. Todos haviam saído da colónia ou mantiveram-se em sociedades secretas tão bem organizadas que acreditava-se que os que restaram no Brasil haviam se convertido ao Cristianismo, o que faz com que muitos brasileiros possuam, mesmo sem saber, origens em judeus portugueses e espanhóis.




A nova remessa de judeus ao Brasil

A imigração judaica no Brasil foi um movimento migratório do início do século XIX até a primeira metade do século XX, especialmente nas regiões Sul, Sudeste e Norte. O judeu brasileiro é um brasileiro que possui ascendentes e/ou crença judaica. Também são consideradas judeus brasileiros as pessoas nascidas no exterior mas radicadas no Brasil.


A imigração a partir do século XIX

Uma nova onda de imigrantes judeus, sefarditas, começou a chegar ao Brasil em 1810, vindos principalmente do Marrocos, estabelecendo-se na Amazónia, principalmente em Belém, onde fundaram em 1824 a mais antiga sinagoga em funcionamento no Brasil e, em 1848, o primeiro cemitério israelita do país; e em Manaus, onde chegaram em 1880. Boa parte dos que chegaram no final do século vinham em função da época dourada da borracha, e sua vinda foi financiada pelos que já estavam na região. Cametá, no interior do Pará, chegou a ter metade de sua população branca constituída de sefarditas.

As famílias mais ricas mudaram-se para o Rio de Janeiro com o declínio da borracha. Ainda assim, a grande assimilação que tiveram na região, envolvendo também sincretismo religioso, fez com que a proporção de descendentes de judeus entre a população branca da Região Norte (amplamente de sefarditas) seja a maior do país. A saga dos judeus amazônidas foi levantada no livro Eretz Amazónia, de Samuel Benchimol.

Em fins do século XIX, uma outra onda de imigração judaica já se fazia presente no sul do Brasil, inserida dentro do fenómeno da grande imigração no Brasil, que ocorreu principalmente entre 1870 e 1920. Neste período, cerca de 5,5 milhões de imigrantes desembarcaram no Brasil, sendo o número de judeus não muito expressivo, pois estes preferiam imigrar para os Estados Unidos.

Com a Proclamação da República do Brasil, uma Constituição foi promulgada, garantindo liberdade religiosa no Brasil, o que facilitou a vinda de imigrantes judeus, desta vez um grande número de asquenazes: a maior parte era proveniente do Leste europeu, regiões da atual Polónia, Rússia e Ucrânia. A maioria desembarcava no porto de Santos e rumava para a cidade de São Paulo onde rapidamente constituiu-se uma próspera comunidade de comerciantes judeus. Com a ascensão do nazismo na Alemanha na década de 1930, formou-se um maior contingente de imigrantes judeus (asquenazes em sua maioria) rumando para o Brasil. Além de São Paulo (principalmente no Bom Retiro), os judeus marcaram presença no Rio de Janeiro, no Sul do Brasil e em outras partes do país. No Rio Grande do Sul possui a fazenda Philipson, fundada no ano de 1904. Ela é considerada como a formadora da primeira escola judaica no Brasil e está localizada no município de Itaara ao lado da BR-158. Posteriormente os imigrantes e descendentes migraram do Bom Retiro para regiões nobres da cidade de São Paulo, como Higienópolis e Jardins.

No Brasil, os imigrantes judeus praticamente não encontraram resistência religiosa e ficaram isentos de preconceito por parte da população local, o que tornou sua adaptação muito mais fácil que as comunidades judaicas norte-americana e argentina, por exemplo. Hoje em dia, a comunidade judaica brasileira participa ativamente na sociedade e estão bastante integrados no país.

 
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